Bondinho já foi usado como transporte coletivo em Cuiabá por quase 30 anos
Cuiabá teve bondinho como transporte coletivo no século XIX. Planejado para interligar o centro de Cuiabá ao Porto, o antigo bondinho funcionou entre os anos de 1891 e 1918 e se locomovia puxado por burros ao longo de trilhos que se estendiam desde o Largo da Mandioca (Praça da Mandioca), passando por áreas centrais como o Beco do Candeeiro, Praça Alencastro e Praça da República, entre outras.
Antes disso, não havia meios de transporte coletivo entre o centro (1° distrito) e o porto (2° distrito); a população se via diante de “desafios a serem vencidos, pois eram quase dois quilômetros a pé, a cavalo ou de carroça por ruas em pedra bruta, formadas por derrame de rochas cristalinas extraídas do rio ou vindas de Chapada dos Guimarães.
Um caminho cheio de bifurcações estreitas e poeirentas”, diz o livro, que também contém a fotografia que abre esta reportagem, do ano de 1891 e de autoria desconhecida.
Com base nela, o arquiteto Moacyr Freitas produziu – com texto do próprio Pitaluga – uma de suas “Gravuras Cuiabanas”, desenhos a bico-de-pena que hoje também ajudam a recuperar parte da história local.
O bondinho passava lentamente por vias que hoje são algumas das de tráfego mais intenso da capital, como as avenidas XV de Novembro e a própria Prainha, atualmente com o córrego oculto sob o pavimento.
A principal linha, porém, era a Rua Treze de Junho.
Nos tempos iniciais da República, segundo a historiadora Elizabeth Madureira, a Treze era uma das mais movimentadas ruas da cidade – que só em 1938 passaria a ter mais de dois quilômetros quadrados de perímetro urbano.
Tecnologia uruguaia, burro brasileiro
Segundo o escritor Lenine Póvoas, os bondinhos de Cuiabá eram idênticos aos usados na capital uruguaia, Montevidéu, com a única diferença de serem movidos por tração animal.
Era suficiente para um perímetro urbano pacato, mas a segunda companhia administradora do bonde queria mais velocidade e tentou substituir o esforço dos brasileiríssimos burricos pelo vapor das locomotivas.
Duas delas chegaram a ser inauguradas, mas não deram certo. “A bitola estreita dos trilhos não permitia a velocidade um pouco mais desenvolvida pelas máquinas, que ora e outra se descarrilava, voltando a funcionar com parelhas de burros”, conta o cronista Aníbal Alencastro.
Porém, tanto o animal quanto o bonde que ele puxava não tardariam a ser substituídos na condição de transporte coletivo em Cuiabá. Madureira conta que em 1918 o bonde foi substituído pelos primeiros automóveis e ônibus da cidade.
Outra versão dá conta de que o administrador do bonde não teria suportado os prejuízos do negócio e suspendeu os serviços.
Já o doutor em História Social Fernando Tadeu aponta um fim parecido ao relatado por Madureira, dizendo que em 1920 o bonde caiu num “ostracismo”, perdendo espaço para os primeiros veículos motorizados.
Fonte: Renê Dioz/G1