Senhorinha Ana Alves de Oliveira: primeira conselheira mulher da OAB-MT
Professora, sindicalista e advogada. Foi a primeira mulher rotariana de Mato Grosso, a primeira mulher Conselheira da OAB - Ordem dos advogados do Brasil, além de receber o título de Comendadora do Estado do Estado de Mato Grosso, comenda essa recebida do então governador Jaime Campos (2007-2015), pelos trabalhos prestados na educação. Formou-se em direito e pedagogia na Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.
Nasceu no distrito de Água Branca, município de Chapada dos Guimarães no dia 22/04/1942, filha de Júlio de Oliveira e Joana Alves de Oliveira. Mudou com seus pais e um irmão (que faleceu com 2 anos) para Cuiabá em 1944. Iniciou seus estudos em 1949 na escola Modelo Barão de Melgaço, o segundo grau no Colégio estadual de Mato Grosso e fez o curso normal na Escola Normal Pedro Celestino, concluído em 1958 aos 17 anos de idade, quando foi nomeada professora da rede pública estadual de ensino. Por causa da pouca idade foi impedida de tomar posse no cargo.
A mulher delicada, de gestos finos e carinhosos, de personalidade marcante não titubeou. Senhorinha Ana Alves de Oliveira não se deixou abater. Entrou com um mandado de segurança e tomou posse amparada por ele. Dai em diante, não parou mais. Lecionou por um bom tempo.
Ao lado de sua irmã, a também professora e advogada Elizina Alves de Oliveira, participou de inúmeros congressos e seminários internacionais sobre educação como representante da Confederação Brasileira dos Professores. Representou a Secretaria de Justiça do Estado de Mato Grosso em vários congressos internacionais sobre prevenção e combate ao uso de drogas.
Como sindicalista lendária e guerreira, acompanhava as lutas do seu tempo por um salário mais digno, por melhores condições de trabalho e por melhores estruturas físicas no trabalho. Para ela a educação sempre foi um ato político e o diálogo era o instrumento e a melhor maneira de se atingir o objetivo desejado.
Como advogada lutava pela democracia e andava sempre de mãos dadas com a justiça social e com a realidade. Era uma legítima e destacada organizadora de massa que se preocupava em oferecer ao professorado formas de participação e organização que colaborassem com a elevação de seu nível de consciência e de suas lutas. Foi uma combatente que teve sua vida dedicada à educação de Mato Grosso, conforme frisou Milton Alves Pedroso, primo de Senhorinha, em homenagem registrada nas memórias dos mato-grossenses.
Presidiu por duas gestões, a Associação Mato-grossense dos Professores (antiga AMP), depois transformada em SINTEP/MT, à época com mais de 14 mil associados, enfrentando diversas greves na luta por melhores salários e outros benefícios, cuja greve perdurou por mais de um mês. Senhoria Alves e toda a diretoria foi exonerada pelo então governador Júlio José de Campos (1983-1986) que, mostrando uma caneta na Televisão, disse que os exoneravam por ilegalidade da greve. Novamente, Senhorinha Alves recorreu ao mandado de segurança e, antes da sentença, o governador disse que os anistiariam. Ao tomar conhecimento do ato, respondeu que não aceitaria pois ela e o seu grupo não eram presos políticos para serem anistiados. Frente à associação, Senhoria Alves colheu frutos e benefícios para os educadores e para a educação no estado de Mato Grosso, inclusive, implantado o Estatuto dos Professores, em Mato Grosso. Passados os anos, o governador Júlio Campos, sempre que a encontrava dizia que ela era um osso duro de roer, informou a sua irmã, a odontóloga Irene de Oliveira Alves.
Atuou na Rede Feminina de Combate ao Câncer. Foi ainda advogada do Funrural (Contribuição Sindical Rural). Em 1998, numa homenagem, pela dedicação com que ajudou a construir a história da educação neste Estado, deu nome a uma escola em Cuiabá, localizada no bairro Jardim Vitória.
Ela exerceu efetivamente o cargo de Técnica em Assuntos Educacionais do MEC (Ministério da Educação e Cultura), também foi presidente da ASMEC (Associação dos Servidores do Ministério da Educação e Cultura/MT), onde se aposentou.
Era membro ativo do Combate às drogas tendo participado de um Congresso em Laos na África em 1984. Em 1986 foi candidata à Deputada Estadual pelo PTB – Partido Trabalhista Brasileiro, não tendo sido eleita.
Senhorinha Alves foi Presidente do Muxirum Cuiabano. Movimento criado para preservação da nossa cultura. Como Presidente coordenou o carnaval cuiabano em 1992. Era uma apaixonada pelo Carnaval. Desfilou como Porta bandeira do Bloco "Urubu cheiroso" do bairro Araés onde ela morava e como destaque da Escola Estrela do Oriente do Bairro Santa Helena. Desfilava, também, na Mocidade Independente Universitária. Era mangueirense, mixtense e corintiana, informou Irene Alves.
Tudo o que ela fazia era com muita paixão. Amava dançar e era disputada nos bailes que participava. Deslizava nos salões em qualquer ritmo. “Me lembro de uma festa na residência de um amigo, ela dançando com o cunhado, meu ex marido, uma animada polca paraguaia e todos fizeram uma roda e batiam palmas. O então governador Jaime Campos que estava presente disse “vou ver o que está acontecendo e quando viu disse: ah! Mas é a Senhorinha dando um show”, relembrou Irene.
Se apaixonou muito jovem por Sebastião Atanásio Monteiro com quem teve 4 filhos. Seu companheiro morreu aos 48 anos, e antes, pediu para uma prima que é freira que levasse um padre no Hospital para fazer o seu casamento com a mulher da vida dele e foi o padre Firmo que deu a bênção matrimonial aos dois uns dias antes dele falecer. Ela o acompanhou até seus últimos momentos.
Senhorinha Ana era uma mulher projetos. Mãe, talvez tenha sido seu projeto mais nobre e encantador em toda sua vida enquanto mulher e esposa. Seus investimentos árduos e lucrativos foram Celmis Lenize Monteiro, Celso Luiz Monteiro, Julinho André Monteiro e Jeferson Alexandre Monteiro. Jamais perdeu a excelência e o orgulho de ser professora, relembra Pedroso.
Senhorinha Alves partiu precocemente com apenas 52 anos de idade, mas para Irene Alves de Oliveira, ela viveu cem anos, pelo tanto que ela era intensa em tudo que fazia. Nós as irmãs: eu Irene Oliveira Rodrigues, Elizina Alves de Oliveira e Rosalva Alves de Oliveira tínhamos por ela o maior respeito e admiração. Era uma mulher de muita garra, uma gigante de apenas um metro e meio de altura.
Assim era Senhorinha Alves, uma mulher que viveu mil vezes em apenas uma vida, que lutou por causas perdidas e sempre saiu vencedora.
(*) NEILA BARRETO SOUZA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotícias. E-mail: neila.barreto@hotmail.com